Campo S. Polo – a versatilidade da aquarela

Um dos maiores prazeres quando viajo, é ter um tempinho para sentar e desenhar, seja lá o que for que chamar minha atenção.

Muitas vezes, na hora não é possível acrescentar a cor, seja por não querer atrasar meus amigos quando viajamos juntos, ou o lugar não permite, ou o tempo não é favorável…

Mas sempre que consigo roubar uns minutos, tento fazer um esboço rápido com nanquim, ou melhor com uma caneta descartável, com tinta a prova d’água. Praticidade inquestionável. Algumas vezes a caneta é preta, outras, gosto de usá-la sépia ou sanguínea.

Neste esboço de um canto do Campo de San Polo, em Veneza, usei uma caneta comum de 0,2 mm (Unipin) e outra da Sakura, com ponta em pincel (Sakura Pigma Brush).

SanPolo

Como não deu tempo para colorir no local, o frio nem era tanto, mas estava mesmo cansado….  deixei para colorir no hotel agora a noite. Como tinha as cores frescas na cabeça foi fácil lembrar, porém umas anotações de cor são também uma boa prática… principalmente se depois não conseguimos colorir o desenho no mesmo dia…  a memória pode nos enganar!

Como de costume, estou usando um Moleskine para aquarela, tamanho médio. O papel é bom, aguenta bem muitas camadas de aguadas e tem uma textura que ajuda nas paisagens. Além do que seu tamanho é também prático para ser levado sem grandes complicações.

O Campo de San Polo é a segunda maior praça pública daqui de Veneza, depois da Piazza San Marco. Era uma área dedicada à agricultura e pastagem, mas em 1493 (imagine só) foi pavimentada e um poço construído no meio. Foi usado para corrida de touros, sermões e bailes de máscaras – até hoje um ponto de encontro favorito no Carnaval de Veneza. Até hoje é local de consertos e projeções durante o Festival de Cinema de Veneza. Agora no inverno tem uma pista de patinação no gelo e uma feirinha de Natal!

Um dos fatos curiosos que aqui aconteçeram foi  em 1548, quando Lorenzino de’ Medici foi assassinado, a mando de Cosimo I de’ Medici. Na verdade, Lorenzino era uma figura complicada, estando ele mesmo envolvido no assassinato do primo Alessandro de’ Medici. Quando ele morou em Roma ganhou o apelido de Lorenzaccio (Mau Lorenzo) por sua “mania” de decapitar estátuas na cidade….que figura…..

 

 

Espigueiros do Soajo

Muitas vezes não é necessário o uso de várias cores para se obter um desenho interessante e expressivo. Veja o exemplo abaixo, deste desenho tonal que fiz em companhia de minha amiga Teresa Pedroso, em uma viagem que ela me levou ao Soajo, na região do Parque Nacional da Peneda-Gêres, durante minha estada em Portugal.
Foi um passeio fantástico, antes de chegar aqui, paramos em outra cidade que – por sorte – estava em festa: Ponte de Lima. Outro lugar que merece uma visita, como tantos recantos em Portugal.
Estes espigueiros começaram a ser construídos por volta do século XVIII, quando desenvolveu-se o cultivo do milho na região. O mais antigo deles data de 1782. Eles eram utilizados para proteger o milho coletado das intempéries e dos roedores!

Soajo

Este desenho foi feito com uma caneta Rotring ArtPen, com tinta sépia. A tinta destas canetas é solúvel em água, assim ao terminar o desenho eu pude colocar algumas sombras, simplesmente dissolvendo a tinta. Para isso eu usei um pincel que possui um reservatório de água. Existem agora várias marcas destes “pincéis de água”, o que eu normalmente uso é da marca Sakura.

Estes desenhos tonais, muitas vezes, acabam sendo mais expressivos que outros nos quais se utiliza cor. O grande contraste que se obtém por meio deste método enriquece a imagem, deixando-a mais expressiva. Além do que, na minha opinião, o aspecto antigo destas construções ficou realçado pela tonalidade sépia!

Este tipo de desenho, nos quais nos preocupamos apenas com os valores, sem o agente “complicador” do elemento cor, nos faz ver e entender as luzes e sombras. Este tipo de treino é essencial para a posterior utilização das cores em outros desenhos. Saber ver luz e sombra é condição sine qua non, para a qualidade de uma ilustração a cores.

Saint James’s Park – Natal 2014

Saint James’s Park é o parque real mais antigo, bem no centro de Londres. Ele está cercado por três dos mais representativos palácios da capital inglesa.

StJamesPark

O antigo Palácio de Westminster – hoje o parlamento, o Palácio de Saint James  e claro o Palácio de Buckingham. Henrique VIII adquiriu o local, no qual havia um hospital para mulheres com hanseníase, e o transformou num parque de caça. Sua filha Elizabeth I utilizou o parque para inúmeras festas e cerimônias da corte. Mas foi apenas Charles I que redesenhou totalmente o local, abrindo-o para o público. Ele mesmo vinha frequentemente alimentar os patos, misturando-se com seus súditos!

Neste esboço eu utilizei apenas aquarela sobre um desenho muito simples feito a grafite. Apesar de ser inverno, o dia estava ensolarado e deliciosamente frio. Depois de andar um pouco, dava até para abrir o casaco. A fileira de árvores sem folhas forma um plano de fundo incrível.

No inverno, quando as árvores estão sem as folhas – pelo menos a maioria delas – é uma estação perfeita para se estudar a sua arquitetura, seus galhos e tronco. Pode-se aprender muito sobre as características de cada árvore pelo seu formato que é bem mais visível assim, sem as folhas. Depois de um tempo podemos reconhecer um carvalho, uma bétula, um olmo ou um vidoeiro.

Claro que não são as árvores do nosso dia a dia, mas em Brasília, com a seca do meio do ano – também nosso inverno – podemos aproveitar para estudar as árvores sem suas folhas. Reconhecer as árvores é uma habilidade que tenho procurado aprender… Não apenas por seus galhos e folhas mas também por seus troncos muitas vezes com texturas bem características que as permite distinguir.

Assim, por que não fazer um caderno de campo temático apenas com árvores? Poderia ser uma grande oportunidade de se estar mais perto da Natureza e aprender um pouco sobre o mundo a nossa volta!!!

Green Park – London

25 de dezembro de 2013, passeando pelos parques de Londres. Passamos pelo Green Park quando estávamos indo do St. James’s Park para o Hyde Park.

Dia ensolarado, apesar de inverno. Sol, céu azul e um frio delicioso. O ar é leve!!!

Green Park

Gostei deste alinhamento de árvores, castanheiros ou plátanos, não me lembro bem (um bom motivo para voltar e conferir…). A luz inclinada do inverno, especialmente num dia assim ensolarado dá uns efeitos lindos. Acho que consegui captar um pouquinho daquela luz neste esboço.

Usei um moleskine pequeno, são mais práticos para se carregar em viagem. Como de costume, fiz o desenho no local, usando uma caneta Unipin 0,1. O importante é prestar atenção se a tinta é a prova d’água, pois caso contrário pode borrar e não ser o efeito que e quer naquele desenhos. Em várias outras ocasiões eu escolho caneta de tinta solúvel, mas o efeito é totalmente diferente e neste caso, não me importo com as cores, apenas com os valores.

Depois, a noite, já de volta no hotel colori com aquarela,  quando ainda tinha fresco na memória as cores deste dia especial…